Na mitologia nórdica, Odin é o deus do conhecimento, da poesia, da guerra e da magia. A sua figura é indissociável dos corvos Huginn e Muninn — Pensamento e Memória — que o acompanham diariamente e voam pelo mundo, trazendo-lhe de volta notícias do que vêem. Em vez de os mostrar em pleno voo, Galiano opta por um momento mais íntimo: os corvos pousados, em escuta e comunhão, como se tivessem acabado de regressar de mais uma travessia.

A pala que cobre o olho direito de Odin é um símbolo claro do preço da sabedoria: na lenda, o deus sacrifica um dos seus olhos para beber da fonte de Mímir — a fonte do conhecimento absoluto. Essa ausência torna-se aqui visível, material, e carrega a força de uma escolha que transcende o físico. Odin surge não como herói, mas como guardião do pensamento e da dúvida, alguém que vê menos, mas compreende mais.

Óleo sobre painel 90x61cm 2024

Galiano apresenta-nos um retrato de sabedoria silenciosa e vigilância interior. O olhar do deus — reforçado pelos olhos dos corvos — parece contemplar o mundo e, ao mesmo tempo, o tempo. Há uma serenidade escura nesta cena: uma quietude que não é paz, mas consciência.

A relação entre o homem e as aves sugere mais do que cumplicidade: são prolongamentos da sua mente, partes vivas do seu espírito. E assim como Huginn e Muninn voam para observar o mundo, também nós somos levados a refletir — sobre o que sabemos, o que esquecemos, e o que estamos dispostos a dar em troca da verdade.

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